Primeira professora negra cotista toma posse na Faculdade de Medicina da UFBA em marco de inclusão histórica
Após disputa judicial, Lorena Pinheiro assume como a primeira docente negra cotista da Faculdade de Medicina da UFBA em ato simbólico de reparação.
Salvador, BA — A otorrinolaringologista Lorena Pinheiro, após meses de luta judicial, tornou-se oficialmente a primeira professora negra cotista a ocupar uma vaga na centenária Faculdade de Medicina da Bahia (Fameb), da Universidade Federal da Bahia (UFBA). O histórico evento ocorreu na tarde desta quarta-feira (6), após uma decisão judicial favorável emitida pela juíza Arali Maciel Duarte, que determinou a posse da docente na vaga de professor adjunto A, Classe A, Nível 1. A nomeação foi publicada no Diário Oficial da União em 29 de outubro.
O caso ganhou atenção pública em agosto, quando Lorena, aprovada em primeiro lugar na categoria de cotas para o concurso de professores, foi surpreendida com a nomeação de outra candidata para a vaga, sob justificativa da UFBA de que a divisão de vagas inviabilizava a aplicação da Lei de Cotas. "A primeira liminar não derrubou somente a minha nomeação. Ela também impediu que a população negra ocupasse essa faculdade, que a reparação histórica de fato começasse a acontecer. Em tantos e tantos anos de discriminação e portas fechadas aos negros", declarou Lorena emocionada durante a cerimônia de posse.
Um marco para a representatividade na universidade
No discurso de posse, o diretor da Fameb destacou o impacto histórico da nomeação, relacionando o momento ao legado do psiquiatra Juliano Moreira, um dos poucos professores negros que ocuparam cargos na universidade no passado. "A gente está reconstruindo uma história que, de Juliano Moreira pra cá, é como se fosse uma pausa, que termina agora, com a entrada de uma pessoa que é a cor dessa cidade. Assim como o professor Juliano Moreira, você faz parte dessa história, Lorena,” afirmou, ressaltando a importância do passo em direção à diversidade na universidade.
Em entrevista, Lorena contou que sua nomeação representa mais do que uma vitória pessoal, é uma conquista que ela dedica a todas as mulheres negras que enfrentam desafios diários para alcançar seus sonhos. "A minha mãe, em especial, que falou que eu era capaz, e deveria, sim, fazer o curso de medicina, passar na universidade pública e fazer o mestrado e doutorado para seguir o meu sonho de ser professora na universidade federal. Essa vitória eu dedico à minha mãe, Maria Ivonete Pinheiro Figueiredo. Ela já se foi, não está aqui, mas, certamente, está vibrando do céu, de onde ela estiver," afirmou a professora emocionada.
Entenda o contexto
O concurso, lançado em dezembro de 2023, disponibilizou 30 vagas distribuídas em diferentes áreas do conhecimento, mas apenas uma para a especialidade de Lorena, no departamento de Cirurgia Experimental e Especialidades Cirúrgicas. Mesmo após vencer o concurso em primeira colocação nas cotas e quarta na classificação geral, a nomeação foi questionada. Em resposta, a UFBA alegou que a aplicação da Lei de Cotas, dada a quantidade limitada de vagas, seria impraticável.
Especialistas e defensores da inclusão, como o advogado Jonata William, argumentaram que a decisão inicial era um retrocesso nas políticas afirmativas. Para Jonata, a prática de fracionamento de vagas, mencionada também em estudos acadêmicos, impede a efetiva inclusão de professores negros nas universidades públicas.
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