No último domingo (2), durante a Missa Solene em honra a Nossa Senhora da Purificação, em Santo Amaro, no Recôncavo Baiano, o bispo diocesano de Cruz das Almas, Dom Antônio Tourinho Neto, utilizou sua homilia para expressar preocupações sobre a festa de largo, evento tradicional que ocorre na Praça da Purificação. O religioso sugeriu ao poder público municipal a mudança de local do palco principal, atualmente montado em frente à Basílica da Purificação.
Posição do bispo sobre a festa
Dom Antônio Tourinho Neto esclareceu que sua proposta não visa acabar com a festa, mas sim modificar sua localização para preservar o ambiente religioso. O bispo ressaltou que tem consciência do impacto econômico do evento e do sustento que ele proporciona a diversos trabalhadores locais.
“Não apoio que a festa de largo aconteça bem em frente [a Basílica], em torno da casa de Deus, em nome da Festa de Purificação. Também fique registrado que eu não proponho acabar com a festa de largo! O Bispo não está propondo acabar com a festa de largo, isso não me cabe decidir. Também tenho consciência de que seria um prejuízo para muitas pessoas trabalhadoras que investem nesta manifestação de rua lá fora, chamada festa cultural! … Dou total apoio, que fique registrado nesta minha fala, que eu dou total apoio aos Trabalhadores e trabalhadoras que com tal festa ganham seu sustento merecido.”, afirmou.
Preocupações com eventos ao redor da Basílica
Além da mudança de local, o bispo fez críticas a algumas situações que ocorrem nos arredores da Basílica durante o evento, como consumo excessivo de álcool, uso de drogas e prostituição. “Quem garante que aqui, em torno da Basílica, não tem uso de drogas durante as festas madrugadas adentro até amanhecer? E a prostituição e outras coisas mais que a festa ao largo proporcionam…”, questionou.
Ele também criticou o uso do nome “Festa da Purificação” no palco principal, classificando-o como contraditório. “Interessante que ali no palco está escrito bem grande ‘Festa da Purificação’. Isto é contradição! E os católicos, nós, o Bispo, fecha os olhos. Não é Festa da Purificação, ali tinha que tá escrito no palco, ‘Festa da Contaminação’. Me perdoem, me perdoem, não é Festa da Purificação. Você acha que Jesus fica satisfeito com a festa de largo? Nossa Senhora fica satisfeita? A toda purificada…”, disse o bispo, enfatizando sua preocupação com a associação do evento secular à festividade religiosa.
Em outro momento, o religioso diz que sua fala não quer dizer que ele ou qualquer outro católico é mais santo do que os que curte a festa de largo.
“Isso não significa que somos mais santos dos que estão lá fora, não estou dizendo isso, temos os nossos pecados. Precisamos marchar para o confessionário para nos purificar da Graça Divina.“
Chamado ao diálogo com autoridades
Dom Antônio Tourinho Neto reforçou que sua fala não tem caráter impositivo, mas sim de apelo à reflexão e ao diálogo entre os responsáveis pela organização da festa. Ele sugeriu que representantes da Igreja Católica, do poder público e do comércio local se reúnam para discutir alternativas.
“Agora eu posso e devo sugerir que se reúnam o representante da igreja católica, os poderes constituídos, eu tenho aqui a o prefeito e uma vereadora, eu tenho o Secretário de Cultura que veio se apresentar a mim e é de uma Irmandade. Não é de uma Irmandade? Os representantes do Comércio local e quem mais de direito dialogar, conversar eu só tô pedindo isso! Eu não tô pedindo para acabar imediatamente eu tô pedindo para sentar e conversar, criar pontes, não muros! E juntos chegarem uma solução viável para que a festa, não quero chamar profana, vamos chamar cultural, não seja prejudicial para a Igreja de Cristo um contratestemunho para a nossa fé cristã.”, afirmou.
O religioso encerrou seu discurso reforçando que a intenção não é julgar ou impor restrições, mas garantir que a tradição religiosa da Festa da Purificação não seja comprometida por elementos que vão na contramão da fé cristã.
A resposta do Prefeito de Santo Amaro
Em entrevista à Rádio Santo Amaro FM, na manhã desta terça-feira (4), o prefeito de Santo Amaro, Flaviano Bomfim (UB), informou que compreende o pedido do Bispo, na sugestão dada em mudar a festa de largo de lugar, mas informou que não há na cidade outro local para a realização da festa. Flaviano Bomfim relembrou o início da festa profana, que começou ao redor da Igreja, com os chamados “bagacinhos”, barracas montadas e próximas à Basílica.
“No meu íntimo, ele [o Bispo] fez esse pedido, e a gente tem o direito também de aceitar ou não. Eu entendo o pedido dele! Mas, não tem como acabar uma festa tradicional , em um local que é tradicional. Então assim, não tem nem local para se transferir essa festa da Purificação. A gente entende, eu reconheço o desejo dele, mas infelizmente, mesmo sentando, pensando com várias cabeças não temos como tirar aquele evento ao redor da Basílica da Purificação.“, disse Flaviano Bomfim.