Sou psicóloga com alma de comunicadora. Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e Psicologia Organizacional, trago um olhar técnico e sensível sobre os dilemas contemporâneos da mente, das emoções e do comportamento humano. Faço parte do InstantBA, onde escrevo reflexões que unem ciência, cultura e experiência de vida. Cristã, mãe e baiana com orgulho. Acredito que comunicar também é uma forma de cuidar.

Ansiedade: porque cuidar da mente também é um ato de fé

Uma escuta terapêutica à dor silenciosa de uma geração que grita por dentro
Ansiedade Fé
Foto: Ilustrativa / Freepik
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Você já percebeu que a ansiedade quase nunca chega com hora marcada?
Ela não respeita calendário, nem datas comemorativas. Ela simplesmente… aparece.
No meio da oração, no silêncio da madrugada ou no meio do expediente.
Vivemos tempos em que a alma corre mais do que o corpo aguenta e o corpo grita quando a mente silencia o que precisa ser escutado.
A ansiedade, muitas vezes, é isto:

  • Um pedido de ajuda em forma de sintoma;
  • Uma emoção desorganizada que quer ser compreendida, não combatida;
  • Uma mensagem do corpo clamando por autocuidado, direção e propósito.

A ansiedade em números: um retrato do Brasil ansioso

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país com maior prevalência de transtornos de ansiedade no mundo, com cerca de 9,3% da população diagnosticada ou seja, mais de 18 milhões de brasileiros vivem com esse transtorno (OMS, 2017; atualização no DATASUS, 2023). E esse número pode ser ainda maior quando consideramos os casos subclínicos ou não diagnosticados.

Não estamos falando apenas de estatísticas, mas de vidas reais impactadas por um sofrimento silencioso que atinge corpo, mente e relações.

A ansiedade está adoecendo o corpo produtivo, os jovens em fase de decisões profissionais, mães exaustas com jornadas triplas, líderes sobrecarregados com expectativas irreais e inclusive, cristãos que se culpam por sentir medo ou angústia, como se a fé invalidasse a dor emocional.

O que a TCC tem a dizer: decifrando a mensagem da ansiedade

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), uma das abordagens mais eficazes no tratamento da ansiedade segundo diretrizes da American Psychological Association (APA) e da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), nos ensina que a ansiedade é fruto de interpretações distorcidas da realidade.

Segundo Aaron Beck, pai da TCC, a ansiedade nasce de padrões cognitivos automáticos como:

  • Superestimação de perigo: Vai dar tudo errado;
  • Desvalorização de si mesmo: Eu não sou capaz de lidar;
  • Catastrofização: Se eu falhar, será um desastre.

Como psicóloga, vejo isso com frequência no consultório: pensamentos negativos, quando repetidos por muito tempo, acabam se transformando em crenças nucleares, que são aquelas ideias profundas, muitas vezes inconscientes, que carregamos sobre nós, sobre os outros e sobre o mundo. São formadas, na maioria das vezes, na infância e vão moldando silenciosamente nosso comportamento, nossas decisões e até nossas emoções. É como se elas operassem no ‘modo automático’, sem que a gente perceba.

E o mais desafiador? Muitas vezes, a pessoa não percebe que está sendo comandada por essas crenças. Mas aqui está a chave da transformação: ao identificarmos esses padrões, conseguimos reestruturá-los. A ansiedade, então, deixa de ser um monstro e passa a ser uma bússola apontando o que precisa de atenção.

Reflexão cristã: fé não anula dor, mas a transforma

Cristãos também sentem ansiedade. E isso não é falta de fé. Mesmo Jesus, no Getsêmani, suou gotas de sangue em profunda angústia (Lucas 22:44). A fé não é anestesia, é esperança viva.

“Lancem sobre Ele toda a vossa ansiedade, porque Ele tem cuidado de vós.” (1 Pedro 5:7)

A ansiedade pode ser um sinal de que você está tentando controlar tudo sozinha (o). De que sua mente está no amanhã, mas seu coração não aguenta nem o agora. De que talvez você esteja carregando fardos que não foram feitos para você.

O que a ansiedade pode estar tentando te contar?

  • “Você precisa aprender a dizer não.”
  • “Você está vivendo para agradar todo mundo, menos a si mesma.”
  • “Seu corpo está pedindo descanso.”
  • “Você precisa de ajuda, e tudo bem não dar conta sozinha.”
  • “Sua essência está silenciada pela rotina automática, é como se cada dia vivido no piloto automático abafasse um pouco mais a voz da sua verdade interior. A ansiedade, muitas vezes, é o sussurro insistente da alma pedindo resgate.”

Caminhos de ação: da informação à transformação

  • Procure a ajuda de um psicólogo ou outro profissional da saúde mental. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), por exemplo, oferece ferramentas práticas e embasadas cientificamente para te ajudar a entender o que está por trás da ansiedade, enfrentar os sintomas com mais clareza e retomar o controle da sua vida com autonomia;
  • Cuide do seu corpo. Sono, alimentação e movimento físico impactam diretamente sua saúde mental;
  • Pratique meditação;
  • Reescreva seus pensamentos. Identifique distorções e declare verdades;
  • Desacelere. Você não foi criada (o) para viver no ritmo das máquinas.

Da dor ao propósito

  • A ansiedade não é o fim;
  • Ela pode ser um recomeço. Um alerta. Uma ponte para o autoconhecimento;
  • O que hoje te aflige, com apoio profissional e um olhar de autocompaixão, pode se transformar em combustível para a sua reconstrução;
  • Respire. Se escute. E lembre: você não é o que sente, você é alguém que pode e merece se curar.
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