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Uso de psicotrópicos atinge quase 8 % de pessoas inférteis, revela estudo baiano

Pesquisa conduzida em Salvador aponta prevalência significativa de uso de medicamentos para saúde mental em pacientes de reprodução assistida
Por:
07/10/2025
Gérsia Viana
Dra. Gérsia Viana especialista em medicina reprodutiva e diretora do Cenafert - Centro de Medicina Reprodutiva, em Salvador. | Foto: Arquivos/Cenafert
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Um estudo inédito liderado pela médica baiana Gérsia Viana constatou que 7,8 % dos pacientes inférteis fazem uso de medicamentos psicotrópicos. O trabalho, intitulado “Uso de psicotrópicos em população infértil: prevalência, perfil etário e relação com tempo de infertilidade”, será apresentado no 29º Congresso Brasileiro de Reprodução Assistida (CBRA 2025), em São Paulo, de 5 a 8 de outubro.

“Poucos estudos avaliam a prevalência dessas medicações neste grupo e sua relação com fatores clínicos. É fundamental avaliar o impacto emocional do diagnóstico e do tratamento de infertilidade em homens e mulheres e criar alternativas para reduzir o estresse e a ansiedade e acolher esses pacientes.”

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Metodologia e perfil dos participantes

O levantamento foi feito entre janeiro de 2023 e dezembro de 2024. Ao todo, 495 casais que buscavam tratamento de reprodução assistida foram avaliados em sua primeira consulta.

  • Prevalência geral: 7,8 % dos pacientes usavam psicotrópicos
  • Por sexo: 9,5 % das mulheres e 6,1 % dos homens
  • Idade média dos participantes: 37,7 anos
  • Causas da infertilidade: feminina (34,3 %), masculina (33,1 %), mista (13,1 %) e indefinida (19,4 %)

Segundo os dados, o uso de psicotrópicos foi mais frequente entre mulheres, mostrando um disparidade no impacto emocional e terapêutico entre os gêneros.

Classes de psicotrópicos e riscos potenciais

Entre as mulheres que usavam medicamentos psicotrópicos, os ISRS (Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina) foram responsáveis por 38,3 % dos casos. Já entre os homens, o uso foi mais distribuído entre ISRS (13,3 %), IRSN (10,0 %) e ansiolíticos não especificados (10,0 %).

Esses medicamentos atuam no sistema nervoso central, aumentando a biodisponibilidade de neurotransmissores como a serotonina e a noradrenalina — moléculas ligadas ao humor, estresse e reguladores do sono.

A pesquisa alerta que psicotrópicos podem provocar alterações hormonais que interferem nos eixos reprodutivos de homens e mulheres.

“O paciente que faz uso desses medicamentos e está tentando ter filhos deve discutir seu caso com seus médicos para avaliar as opções de medicamentos e dosagens seguros que não afetem a fertilidade”, orienta Gérsia Viana.

Além disso, alguns psicotrópicos podem gerar riscos durante a gestação, expondo mãe e bebê a malformações, síndromes neonatais ou problemas respiratórios.

“É fundamental que o uso desses medicamentos seja discutido e acompanhado por psiquiatra e obstetra para que avaliem as substâncias e doses mais seguras”, destaca.


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Dimensões emocionais e suporte multidisciplinar

A infertilidade, além do impacto biológico, afeta a saúde mental, as relações sociais e o convívio conjugal. Para a psicóloga Liliane Carmen Souza dos Santos, integrante da equipe de pesquisa, o acompanhamento psicológico é crucial para manejar emoções, oferecer estratégias de enfrentamento e preservar a qualidade de vida do casal.

“Ter práticas de autocuidado que incluem, alimentação saudável, higiene do sono, descanso, atividades físicas, autoconhecimento e conexão social, traz diversos benefícios para a saúde física, mental e contribui positivamente para a qualidade de vida, saúde e bem-estar do casal que está tentando ter filhos”, afirma.

Gérsia Viana reforça: “O acompanhamento psicológico e as terapias complementares são aliados importantes dos pacientes que buscam tratamentos para infertilidade”.

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